Os olhos azuis se vão

Frank Sinatra, o maior cantor popular do século, morre aos 82 anos de ataque cardíaco

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Os velhos olhos azuis se foram, se é que as lendas têm cor ou vão embora algum dia. Francis Albert Sinatra nasceu condenado, cresceu como bandido-herói e morreu em busca do céu. Havia dez anos voltara ao catolicismo da sua infância, patrocinando reformas em igrejas e fazendo turnês pelo mundo para ajudar crianças pobres.
Jamais esqueceu que não deveria ter sobrevivido ao dia l2 de dezembro de 19l5, na cidadezinha de Hoboken, Nova Jersey, quando um parto infeliz quase o estrangulou e lhe deixou um tímpano furado e cicatrizes no rosto, atrás das orelhas “e até na alma”, como ele lembrou certa vez.

Era pobre, filho único de um bombeiro e uma imigrante genovesa. Raquítico, tímido, tendo como poucos companheiros uns meninos de rua tão sem esperança quanto ele, chegou a acreditar que se transformaria num marginal e morreria cedo, crivado de balas. Morreu de ataque cardíaco na noite de quinta-feira passada, dia 14, no Hospital Cedars-Sinai, de Los Angeles. Tinha 82 anos e estava crivado não de balas, mas de glórias, as maiores que um cantor de música popular teve neste século.
Night and day, he was the one — noite e dia, incomparável…

Andava doente havia tempos, por causa da idade e de uma vida formidável, no bom e no mau sentido. Não queria parar de cantar, mas passou pelo vexame de esquecer as letras até de sucessos com os quais dividiu seu travesseiro durante décadas, como Strangers in the Night, canção que, aliás, detestava. Teve de ser socorrido pelo teleprompter, a muleta dos apresentadores de TV que não decoram seus textos. Parecia aposentado dos discos havia catorze anos, em L.A. Is My Lady, uma obra tão sem graça que seus fãs mais ardentes gostariam que não existisse. E por que existiria? O melhor, o autêntico, o genuíno Sinatra já estava todo gravado, numa abundância que começou em 1939, com All or Nothing All, e terminou cinco décadas e cerca de l.500 canções depois.

Nas gravações de “Close to You”, em 1956 ©Sid Avery / mptv images

Longe do público e longe também de seus parceiros de estúdio, o falso aposentado ergueu a voz para lançar nos últimos cinco anos dois CDs, Duets, nos quais fazia dupla com figurões mais jovens. Eles gravaram em suas cidades e mandaram as vozes para se unir à dele, “The Voice”, o indomável velho solitário plantado nos estúdios da Capitol, em Los Angeles, palco de seus grandes momentos. Nessas gravações ultra-high tech ele só precisou, como nos tempos do vinil de 78 rotações, de apenas uma sessão, sem nenhuma repetição, para colar sua voz à dos convidados. Terminado o serviço, ia para casa em Palm Springs dormir ao lado de sua quarta mulher, Barbara Marx, com quem estava casado havia mais de vinte anos. Finalmente encontrara a mulher de sua vida, dizia, e a abençoava.

Quando Sinatra fez 80 anos, a profusão de homenagens foi tão avassaladora quanto constrangedora. Apenas uma de suas gravadoras, a Reprise, colocou à venda 452 canções gravadas entre 1960 e 1988, num total de 24 horas de duração. Depois de ter sido posto para escanteio nos anos 1960 e 1970, como outros cantores de sua geração, Sinatra aparecia de novo como alguém maior que Elvis Presley, maior que os Beatles, maior do que qualquer um. Mas a lenda sem o homem de chapéu — de preferência ligeiramente jogado para trás —, ternos cinzentos, gravata frouxa, um cigarro na boca e um drinque na mão, murmurando ao piano canções de dor de cotovelo, como One More for My Baby, não tinha forças para se manter em pé.

Sinatra gravou de tudo, até música de discoteca. Fez filmes bons e ruins, arrasou os corações adolescentes, foi feliz e infeliz em seus casamentos, naufragou na bebida, desapareceu num período de decadência, ressuscitou e voltou ao trono, mas tudo isso, em graus variados de intensidade e valor, ocorreu também com outros artistas. Conquistou seu espaço com talento e muque (aos 20 anos, deu na cara de um anônimo freguês do Onyx, um boteco de Nova York onde cantava, porque o homem falava alto demais). Mas outros também fizeram isso e não se transformaram em Frank Sinatra.

O jovem Sinatra solta a voz: ele não só cantava como entendia o que os compositores queriam expressar ©Willian Gottlieb

Algo o distinguia dos artistas comuns. Mesmo nos tempos de ostracismo, no começo dos anos 1950, continuava sendo o número 1, só que hibernando à espera do bote. De nada adiantou os Beatles terem vendido, nos anos 1960, 20 milhões de cópias de um único LP, contra 1 milhão de Sinatra — o único disco de ouro dele até a época. Nem que Vic Damone tivesse melhores cachimbos ou que Tony Bennett tivesse um gosto musical superior, além de cantar com mais perfeição que todos eles, Sinatra inclusive, como ele mesmo sempre reconheceu, numa surpreendente contrição de falsa modéstia. Havia outra coisa em jogo. Sinatra tinha poder.

Os melhores fãs de Sinatra, até no Brasil, onde ele ganhou fã-clube nos anos 1940 capitaneado pelo pianista e cantor Dick Farney, entenderam isso muito depressa. Aqueles olhos azuis, aquela voz de barítono e pronúncia cristalina eram para durar para sempre. Pouco se lhes dava se seu ídolo tivesse ficado gordo ou careca; eles também haviam ficado. Também não se incomodaram com o fato de Sinatra ter deixado de ser o falso liberal da corte de John Kennedy, na versão americana da esquerda festiva, para aliar-se a Richard Nixon e Ronald Reagan e outros mamutes republicanos: muitos deles também fizeram isso. O diretor Billy Wilder, uma das mentes mais brilhantes e cínicas de Hollywood, comentou uma vez que Sinatra tinha talento demais e caráter nenhum. “Por isso espalha no ar essa espécie de eletricidade que excita todo mundo”, acrescentou, sem explicar mais nada.

Com tanto talento e caráter nenhum, Frank quase matou a mãe de desgosto ao fugir da escola aos l6 anos para frequentar casas de música e cinemas. Sua vida estaria para sempre enquadrada nesses dois lugares. Nas telas, o povo vibrava com biografias de bandidos como Edward G. Robinson em Alma no lodo e George Raft em Scarface. Nas rádios, fazia sucesso um programa de calouros, Major Bowes Amateur Hour, no qual Frank se apresentou ao lado de um trio de cantores e acabou ganhando o primeiro prêmio. Anos depois, Sinatra disse numa entrevista que “se não fosse a música, teria me transformado num gângster”. Para muitas pessoas, a música não o salvou dessa vocação. Uma de suas amigas, Shirley MacLaine, alfinetou quando ele aderiu a Nixon e sua turma: “Os gângsteres sempre o fascinaram”.

É ver e ouvir para crer. Em 1939, aos 24 anos, Frank se casou com Nancy Barbato, uma namoradinha de infância. Em 1940, depois de cantar de graça e por um pouco mais com o trompetista Harry James, juntou-se à orquestra de Tommy Dorsey, popularíssima, e ficou famoso. Era acossado por adolescentes que bloqueavam as ruas perto do teatro Paramount, em Nova York, tentando arrancar-lhe as roupas. Os três — Sinatra, Nancy e Dorsey — se odiavam intensamente, cada um no seu canto. Com a mulher, teve seus três filhos, Nancy, Frank Jr. e Christina, que depois teriam carreiras medíocres no show business.

Com o maestro partiu para a ignorância quando se separaram em 1942. Dorsey, descrito por seus músicos como um tipo intratável, solitário e sovina, encostou o seu crooner na parede e cobrou-lhe 33% do que havia ganhado nos dois anos de parceria. Sinatra fingiu concordar, mas Willie Moretti, um gângster sifilítico que foi amigo do cantor até morrer, em 1951, anulou o acordo enfiando um cano de revólver na boca do maestro. Terminado o serviço, enfiou uma nota de um dólar no bolso de Dorsey. Nos anos 1960, quando os roqueiros começaram a comer os pés dos cantores “clássicos”, Sinatra lembrou o quanto já havia sido feliz e homenageou o velho desafeto num disco emocionante, I Remember Tommy… (Dorsey).

Data da época em que recorreu aos serviços do gângster Moretti a obsessão quase patológica de Sinatra pelo exercício da autoridade. Bebia, namorava e fazia escândalos em público, mas exigia — sabe Deus por quê — que as víboras do colunismo de fofocas, como Hedda Hopper e Louella Parsons, no auge de sua destilaria de venenos, não falassem de sua vida. Jurou destruir a imprensa, e esta quis acabar com ele. Sinatra trocou socos com repórteres e fotógrafos, mas nem ele nem a imprensa acabaram. Ele batia no peito: “Jamais ganhei um tostão que não fosse honesto” e repetia a frase em todo canto, maniacamente.

No entanto, tornou-se o ator mais investigado desde John Wilkes Booth, o homem que matou o presidente Abraham Lincoln em 1865. Na verdade, chega a ser um espanto a quantidade de vezes em que Sinatra saiu ileso em processos e investigações que queriam destruí-lo, por causa de suas notórias ligações com a Máfia. Só para citar um gângster histórico, Lucky Luciano, nas suas memórias, diz com todas as letras: “Demos dinheiro a ele e ajudamos a transformá-lo num grande astro”.

A gana de Sinatra pelo poder levou-o a percorrer os pontos extremos de uma mesma escalada. De um lado, Gambino, Giancana e outros mafiosos seus amigos. De outro, Franklin Roosevelt, Kennedy, Reagan — seus ídolos e companheiros partidários. Para ele, era a mesma coisa: o poder estava acima do bem e do mal. No meio, havia lugar para a famosa turma de cafajestes talentosos que reuniu em torno dele, o chamado Rat Pack — Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford, mais a mascote Shirley MacLaine. Desse grupo, ele cobrava fidelidade canina, enquanto faziam filmes, shows, festas e arruaças. Terminaram todos ressentidos entre si. No fim da vida, pesando trinta quilos por causa de um câncer, Sammy Davis Jr. dizia que era impossível suportar o Chefão.

Em boa companhia: com Tommy Dorsey; com o “Rat Pack” – Peter Lawford, Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr. e Joey Bishop; e em dueto com Tom Jobim ©Reprodução

Por ser irascível, seus momentos de generosidade eram ainda mais cintilantes. Às seis horas de uma manhã, Sinatra interrompeu a farra num hotel de Los Angeles e foi ao hospital onde o ator Lee J. Cobb agonizava depois de um ataque cardíaco. Pagou a conta e desapareceu. Em outra ocasião, bancou as operações cardíacas do ex-campeão mundial de peso pesado Joe Louis, feitas pelo cirurgião Michael DeBakey, o mesmo que atuou como observador do presidente russo Boris Ieltsin quando ele entrou na faca. O bom das lendas, e Sinatra é uma das maiores, é o seu aspecto bifronte. Ao contrário de todos os fora da lei do cinema e muitos da vida real, Sinatra jamais foi apanhado. Em vez disso, ganhou entre os músicos o apelido “Pôncio Pilatos”, por estar o tempo todo lavando as mãos. Era obcecado por limpeza.

No começo, tinha apenas a voz. Em seguida, chegou ao cinema, onde passou a usar peruca e maquiar as cicatrizes. Fez mais de sessenta filmes, entre eles belos musicais, como Marujos do amor, ao lado de Gene Kelly (1945), Alta sociedade, com Grace Kelly (1956), e Eles e elas, com Marlon Brando (1955), além de um papel dramático que lhe valeu um Oscar de ator coadjuvante em A um passo da eternidade (1953), que o salvou do ostracismo. Naquela época, ele vivia bêbado e deprimido por causa de seu casamento com Ava Gardner (l922-1990), chamada pelo escritor e cineasta francês Jean Cocteau de “o mais belo animal do mundo”.

Ela provocou o aborto de um filho que teriam, traiu-o com vários homens e quase o levou ao suicídio. Sinatra casou-se ainda com a jovem Mia Farrow, trinta anos mais nova, depois de ter colecionado beldades como Lana Turner, Lauren Bacall e Kim Novak. “Para Sinatra, o paraíso é um lugar cheio de mulheres e sem nenhum jornalista”, brincou o ator Humphrey Bogart, um de seus melhores amigos e de quem Lauren ficaria viúva. Ao final, o cantor encontrou sossego ao lado de Barbara Marx, ex-mulher de Zeppo, um dos célebres irmãos Marx.

Sinatra, com todos os seus tormentos, sempre teve o melhor de tudo — compositores, instrumentistas e arranjadores. E, em sua carreira artística, os pontos mais altos foram conseguidos pelo cantor. Todos os seus colegas tentam dar a impressão de que se dirigem a cada um dos seus ouvintes. Mas só Sinatra parece ter conseguido ser sincero nesse efeito. Foi o maior cantor popular do século não apenas em cifras gerais. Era também o melhor na opinião dos músicos, seus colegas, e de maestros que pouco tinham a ver com a música popular, como Gunther Schuller e Leonard Bernstein.

Deixou uma obra incomparável. “A Voz”, seu primeiro apelido e melhor sinônimo, esgotou superlativos: nos anos seguintes, foi conhecido também como “Ás de Ouro”, “General”, “Papa”, “Figurão” ou “Chefão”. Sinatra foi o melhor cantor popular de todos os tempos porque era o mais sensível, o mais romântico e até o mais inteligente. Vários motivos contribuíram para a criação do mito. Antes de qualquer um deles, porém, está o jeito único de cantar. O charme do Sinatra cantor sempre existiu. O passar dos anos só ajudou a lapidá-lo. Numa de suas primeiras entrevistas, feita logo depois de ter sido contratado por Harry James para sua orquestra, Sinatra demonstrou tanta autoconfiança que deixou seu empresário embasbacado. Ainda sem nenhuma gravação de sucesso na praça, conhecido apenas por uma ou outra apresentação no rádio, Sinatra já se considerava o melhor.

Naquela época, ele seguramente ainda não merecia tanto crédito. Questão de tempo, claro. Seu primeiro e maior desafio seria superar, em popularidade e admiração, aquele que era o grande cantor na época em que Sinatra ainda trabalhava no escritório de um jornal de Nova Jersey. Bing Crosby, que chegou antes, já havia estabelecido um padrão de como a música popular americana deveria soar, e esse padrão estava no gosto do público quando Sinatra entrou no páreo.

Para suplantá-lo, o egocêntrico cantor precisaria ser mais do que afinado, mais do que um barítono de voz aveludada. Não demorou para descobrir o que poderia fazer com seus recursos. Eles apontavam numa direção, que era a da clareza. Sinatra passou a prestar muita atenção nas letras que cantava, extraindo de cada uma delas nuances que nenhum outro cantor havia conseguido. Nesse quesito, quem chegou mais perto de Sinatra foi uma mulher, Billie Holiday, a “Lady Day”, de quem o cantor costumava dizer que aprendeu tudo.

Billie Holiday cantou muito, mas seria incapaz de transformar Sinatra em “A Voz”. Ele teve outros mestres. Um, importantíssimo, foi Tommy Dorsey, apesar do fim trágico da relação entre os dois. Muito mais do que dar um bom emprego a Sinatra e contribuir para sua popularização, o trombonista ajudou o cantor a desenvolver sua técnica pessoal. Primeiro, pela respiração. Por tocar um instrumento de sopro, Dorsey tinha obrigação de saber controlar o diafragma e a emissão de ar. Bastou ver o chefe em ação para Sinatra perceber que respirar direito era o primeiro passo para cantar bem.

Dorsey ainda faria mais por Sinatra, mesmo sem saber. No mundo competitivo das grandes orquestras que contagiavam os Estados Unidos no início dos anos 1940, era de ouro do swing, só encontrava espaço quem dava a sua banda um diferencial rítmico. Dorsey tinha achado o seu andamento e obrigava Sinatra a adotar um fraseado com acentos imprevisíveis. Não era apenas um jogo de cena o estalar de dedos em contratempo com que mais tarde Sinatra ditava o ritmo para seus músicos. Ele realmente sabia escolher o andamento perfeito para então deitar sua articulação vocal infalível.

Nos lendários estúdios da Capitol, em Los Angeles, 1956 ©Frank Sinatra Enterprises

O envolvimento com músicos de jazz também ajudou Sinatra a definir sua cadência. Ele aprendeu a importância de destacar a voz do resto dos instrumentos. Não fazia isso cantando mais alto, mas sim reforçando trechos vocais nos momentos em que a banda soava menos intensa. Atacava no instante em que o acompanhamento recuava, deixando sua voz soar onipresente. Sua maneira natural de encontrar o tempo certo de cada canção acabaria influenciando todos os cantores que o seguiram.

Até Bing Crosby, mais tarde, seria obrigado não só a dividir a cena com o ex-rival no filme Alta sociedade como a adotar o estilo dele, que virou padrão a partir dos anos 1950. Foi nessa época que os discos lançados por Sinatra atingiram os primeiros lugares das paradas americanas, quebrando recordes seguidos de vendas. Come Fly with Me, de 1958, ficou 71 semanas entre os mais vendidos. Strangers in the Night, já de 1966, ficou 73 semanas. Sua parceria com um grande compositor brasileiro (Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim), em 1967, foi um hit tão poderoso que naquele ano só perdeu para o Sgt. Pepper’s, dos Beatles. Sinatra esteve no Brasil duas vezes e na primeira, em 1980, arrastou ao Maracanã uma de suas maiores concentrações humanas, calculada em 170 mil pessoas.

Além do senso rítmico, da voz marcante de barítono, do timbre agradável e da interpretação sempre sensível de Sinatra, o cantor teria pelo menos mais um motivo para ser considerado o melhor da música popular americana. Ao contrário de Ella Fitzgerald, superdotada de recursos vocais, mas com sérias dificuldades para entender letras sofisticadas como as de Cole Porter, Gershwin e companhia, Sinatra entendia o que os compositores estavam querendo com suas canções. Um bom exemplo é Night and Day, que Porter compôs em 1932 e que Sinatra gravaria seis vezes, a partir dos anos 1940.

A primeira versão, gravada em sua estreia como cantor-solo, anteciparia o estilo contagiante de Sinatra, amadurecido no decorrer de muitos anos de intensa atividade musical. Naquela gravação, Sinatra já demonstrava profunda compreensão das ambições do compositor. Esse tino foi seu maior aliado e fez a diferença em gravações antológicas, como as de All of Me e I’ve Got You under My Skin. Grandes músicos e arranjadores tiveram imenso prazer em trabalhar com Sinatra em toda a carreira do cantor. Ele soube interpretar baladas como ninguém e deu à música popular deste século vários de seus melhores momentos. Basta lembrar de My Way, Let Me Try Again, New York, New York e tantas outras canções que embalaram as lembranças mais felizes, ou até mesmo infelizes, de milhões de homens e mulheres ao redor do mundo. “Old Blue Eyes” já está fazendo falta.

A arte de dizer

Com vocês, Sinatra – não o cantor, mas o ícone da elegância e o homem das tiradas espirituosas.


•  Bebida  •

Sou a favor de tudo que ajude a passar a noite, sejam orações, calmantes ou uma garrafa de Jack Daniel’s.”

É preciso tomar cuidado com as pessoas com quem você bebe. Muitos não conseguem beber sem ficar bêbados. O sujeito às vezes fica tão bêbado que eu o vejo em dobro.

•  Resoluções de Ano-Novo  •

Ser gentil com animais idiotas, inclusive gatos, cachorros e repórteres da revista National Enquirer.

Parar de fumar durante o banho, por exemplo.

Fazer mais para ajudar o meu país e começar enviando ao presidente e ao Congresso tubos de supercola para eles escovarem os dentes.

•  Elegância  •

Quando você sabe que um chapéu lhe cai bem? Quando ninguém ri.

Colônias fortes me dão vontade de sair correndo.

Sou um homem fanaticamente simétrico.

Para mim, smoking é um modo de vida. Quando um convite diz que o smoking é opcional, é mais seguro usá-lo.

•  Mulheres e sexo  •

Não me importo de ser acusado de adorar mulheres — só não me acusem de odiar algumas delas.

Não gosto de maquiagem em excesso. Sei que as mulheres precisam um pouco disso, mas acho que elas — em geral — têm beleza suficiente para não precisar usar maquiagem de circo.

Desde que comecei a perceber as diferenças entre homens e mulheres, que foi mais ou menos perto do meu primeiro aniversário, usa-se todo tipo de nome para se referir às mulheres. Para mim, são todas ladies.

Se eu tivesse tantos casos amorosos quantos me creditam, estaria agora lhes falando de dentro de um frasco da Escola de Medicina de Harvard.

•  Fama e fracasso  •

Chega desse papo de “tragédia da fama”. A tragédia da fama é quando ninguém aparece e você está cantando para a faxineira num botequim vazio que não recebe um cliente pagante desde o dia de são Nunca.

•  Brigas  •

Nunca cheguei a entrar numa briga na rua. Minhas brigas foram parar na rua — começaram num botequim e só depois nós fomos para a rua.

•  Saudações  •

Como vai seu passarinho? (quando encontrava os amigos)

Durma quentinha, doçura. (para terminar uma noitada)

•  Morte e vida  •

Só se vive uma vez. E da maneira que eu vivo, uma vez basta.